ARTIGO- O "VALE TUDO" RECONDUZ DILMA Á PRESIDÊNCIA





Nunca o Brasil tinha experimentado uma eleição tão disputada neste seu período democrático. As acusações mútuas entre os candidatos e partidos apoiantes, ultrapassaram em muito a decência moral e a ética que se exige a grupos políticos que ambicionam governar um país. O PT, mesmo assim, conseguiu por larga margem ser ainda mais “vulgar” na sua falta de ética. Mas isso, já não é novidade na política brasileira. A população apercebe-se disso e critica em viva voz, mas para quem desejava a mudança, o resultado destas eleições não trouxeram minimamente esse desiderato.
A indecência de insultos e falta de civismo constantes na política brasileira, tem também tomado conta da sociedade civil. O mais grave, porém, é que dividiu-a para uns laivos de extremismo, como há muito não se testemunhava neste país da América Latina.
O PT lá conseguiu contrariar a onda de críticas que assombravam a Presidente, principalmente nestes últimos dois anos. Para isso, foi negando todos os factos negativos do seu governo, exaltando em contrapartida os seus feitos sociais, muitas vezes baseado em estatísticas ou elementos deturpados.
Conseguiu também fazer crer a muitos, que a era de Fernando Henrique Cardoso (FHC) tinha sido um fracasso! Lula, foi decisivo na fase final da campanha, seguindo um estilo trauliteiro e amoral, chegando ao ponto de comparar os tucanos aos nazis!
Seja como for, o PT saiu vencedor, embora com uma margem muito curta. Contou com uma máquina de campanha brilhante, ao contrário do PSDB, que não conseguiu, mais uma vez, ter uma penetração incisiva no Nordeste. Mas o pior de tudo para Aécio e os seus companheiros tucanos, foi ter perdido em Minas Gerais. Aécio tinha sido Governador deste Estado (segundo mais populoso) entre 2003 e 2010. Chegou a ser considerado o melhor Governador do Brasil e na época, até recebeu elogios da própria Dilma.
Os resultados eleitorais demonstram, ao contrário do que alguns analistas defendem, uma divisão do país ao meio. Pode-se analisar de diversas formas os resultados, contudo é inquestionável que o vermelho do PT domina os Estados do Nordeste, e o PSDB é mais popular no sul e sudeste, com excepção do Rio de Janeiro. Poderá ser apenas alarmismo meu, mas quando estas divisões se acentuam, vozes independentistas e pró-divisão do Brasil se fazem ecoar, mesmo que de maneira discreta.
A troca de galhardetes entre os defensores de Dilma e Aécio é uma constante; isso aliás está bem patenteado nas redes sociais, onde os insultos e impropérios ultrapassam todos os limites.
O Brasil pedia mudança e muitas pessoas sentiram-se frustradas com o resultado. A sua ira tem-se manifestado da mais diversas formas, ultrapassando muitas vezes a razoabilidade e demonstrando que existe ainda muito preconceito, principalmente em relação aos nordestinos.
Dilma promete mudanças, mas durante a campanha, demonstrou muita teimosia em relação a determinados assuntos, que ressaltam por demais a evidência de insucesso do seu governo. Ora isto, paga-se caro.
O seu mandato começa sem qualquer tipo de “lua de mel”. Os mercados internacionais nitidamente apostavam na vitória de Aécio, por isso, se ela quer melhorar seu governo e torná-lo efectivamente governável, necessita ultrapassar uma série de obstáculos.
A Presidente, tem de se lembrar que o país efectivamente não se encontra numa fase de crescimento; estagnou. Ao contrário de Lula, não se soube rodear bem; este uma vez na presidência limitou-se, e bem, a não estragar muitos aspectos positivos que a política económica de FHC lhe trouxe de bandeja. Há que recolocar o crescimento do Brasil no topo da agenda novamente. A inflação tem de ser controlada e os impostos não podem massacrar ainda mais a população e as empresas. O investimento estrangeiro tem de ser novamente atraído, e para que isso se efective,  Dilma vai ter que ser mais activa na política externa brasileira, bem como procurar aumentar seu prestígio entre seus parceiros internacionais.
A corrupção, a educação e a segurança pública são assuntos que supostamente todos os políticos colocam nos seus programas como prioridades. No entanto, o PT não pode escamotear mais a verdade. A corrupção está cada vez mais impregnada e este partido tem muita culpa no cartório. A educação tem melhorado consideravelmente, mas é preciso fazer muito mais, e não é diminuindo o grau de exigência, para assim mais pessoas completarem o ensino médio, ou superior. Sobre a segurança, é por demais evidente a péssima fama que o Brasil tem a nível mundial. O Brasil não tem uma guerra civil, mas perante o número de homicídios que ocorrem diariamente, até parece que tem.
A Presidente reeleita terá a partir de 2015 muitos desafios pela frente. A oposição já aponta as espingardas em todas as vertentes, sendo o Congresso Nacional a forma de expressão mais evidente. O PT ganhou sim, numa campanha do “vale tudo”. Mas Dilma não tem vida fácil pela frente, e só terá algum sucesso daqui em diante, se alterar radicalmente a sua política, principalmente no âmbito económico. Aécio Neves desta vez perdeu, mas afirmou-se em definitivo como a face principal da oposição. Caso tenha uma máquina partidária mais afinada em 2018, talvez saia vitorioso. No entanto, há que contar com o possível regresso de Lula, que já demonstrou que irá estar mais activo neste segundo mandato de Dilma.
Miguel Verde



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